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Arquitetos: Carlos Castanheira
- Área: 3000 m²
- Ano: 2017
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Fotografias:Fernando Guerra | FG+SG
Descrição enviada pela equipe de projeto. O local é um daqueles lugares que se julga já não existir. A pressão urbanística, as fases no tempo de a condicionam, os interesses que um determinado local passa de interessante a menos interessante não afectaram a sua existência e o seu carácter. O Cabedelo e sua praia, tiveram dias melhores, de reconhecimento nacional, pelo lazer de vida, da praia, mas também pelo divertimento e vivências da noite.
Parece-nos, estamos certos, que o local, as dunas, a praia, o porto e o mar têm agora uma nova existência, um diálogo que fará aparecer uma nova vivência, novos interesses, melhores equilíbrios, numa transformação da natureza, protegendo-a, promovendo-a, dela gozando num usufruto equilibrado. O que agora se denomina de sustentável. O local é e terá que se manter sustentável. Sustentável ecologicamente, urbanisticamente sustentável, vivencialmente sustentável, sustentável economicamente. Somente garantido estes graus de sustentabilidade, o sustentável se manterá sustentável. No local existem dunas, depressões, pinheiros enormes de altos, novos pinheiros, muitos de demasiados, arbustos que quase são árvores, e vegetação rasteira. As dunas, de protecção mas também de marcação, são fronteira entre o interior e o que já é do mar, o nosso, o Atlântico.
Do lado de terra, as dunas marcam a diferença do que tem acção directa da força física, da força climática e da força sonora, assim como da beleza da sua força. É sossego, descanso e protecção, mas também avidez de as passar, de espreitar e sempre, sempre nos deslumbrarmos de como é diferente, hoje, amanhã, sempre o mar, o vento, o areal,nós. Do lado do mar, as dunas, movimentam-se, adaptam-se, são adaptadas, criadas, corrigem-se e marcam a protecção da força da beleza em bruto do mar, das suas ondas, da sua humidade, que em vontade de se dispersar, voa com o vento, a nossa nortada, sempre presente, sempre penetrante, tantas vezes, quase sempre, refrescante econdicionante.
Mas há, também, os dias em que a nortada, o mar, descansam. As pranchas deixam de fazer parte da paisagem. Faz-se uma pausa, pois só disso se trata, em breve o vento, forte, convidará às ondas, às pranchas, às velas, aos saltos acrobáticos. Na praia os amantes, os críticos, muitos curiosos, os que gostariam mas não podem ou não encontram coragem, gozam de abrigados ou de expostos, por algum tempo, à natureza, insustentável de sustentável. O Cabedelo já foi mais veraneio do que já é. As distâncias estão mais curtas, as férias também, os fins-de-semana são já muito de férias. As ondas, o vento são desculpas para escapadelas, invenção de fim-de-semana a meio desta.
A proposta elaborada, é para o local e do local é proposta. O terreno, as movimentações deste, a formação da duna que dá início a outras e depois à praia, os pinheiros e outra vegetação, a relação urbana e o programa pretendido são a génesis da ideia. Já alguém disse e escreveu que: a ideia está no local, e é isso mesmo. Foi necessário ir ao local, estar no local, viver o local em diferentes momentos do dia assim como climatéricos, para o perceber e encontrar a ideia, conhecê-la e abraçá- la. A ideia ou proposta sofre de simplicidade que espero, desejo, como é habitual das coisas simples, seja a grande valia para o local e para a sustentabilidade deste e deste com a ideia.
Pretende-se a criação de um hotel. A palavra hotel nem sempre está conectada com uma intervenção positiva. Foi durante muito anos e ainda o é, associada com um grande edifício de muitos quartos, forte presença volumétrica e multidões a dele entrarem e saírem. O hotel é local onde provisoriamente se vive, como alternância à casa onde vivemos, por necessidade, vontade e se possível pelo prazer do lazer. O hotel que se pretende é espaço de prazer, de lazer, de conforto e de vivência daquele local composto por vários locais. Não será um hotel como anteriormente descrevi. Será local de tranquilidade, de pouca gente que vivem ou estão em espaços diferenciados e diferentes, podendo se encontrar nos outros locais com características sociais, pelo seu equipamento, pelas suas funções.
À chegada teremos o acesso, o acesso automóvel, restrito e somente necessário para as funções vitais da unidade. O resto será pedonal, obrigatório, fácil, aprazível. O acesso técnico será realizado desde a rua existe asul. O edifício principal, de maior volumetria, albergará os serviços técnicos, administrativos, um restaurante, bar e o terraço,grande. Aproveitando o desnível entre a cota baixa do terreno e a cota alta da duna será criado um piso semienterrado para as funções técnicas, ficando os espaços sociais e de encontro entre utentes, pousado, levemente, sobre a duna, permitindo espreitar o mar, usufruir do pôr do sol, sentir o vento.
Os quartos não o são por não os há, serão algo diferente, pretende-se. Pequenas casas de tamanhos diferentes, quase iguais mas só semelhantes, espalhadas criteriosamente por entre os pinheiros e onde este nos permitem, serão montadas. Mais a sul um grupo de pequenos apartamentos, em banda, será instalado sobre a duna, solidificando-a, mantendo-a. Ao centro e interiorizado mas bem exposto ao sol, um volume maior, integrado pela volumetria das construções existentes e pela duna, terá no seu interior uma piscina e equipamento hoje definido como SPA. Este equipamento permitirá a utilização e gozo do contacto com a água em situações de tranquilidade que nem sempre são as desejáveis por todos. O mar permitirá contactos mais radicais, a piscina, outros mais tranquilos.
Os materiais já lá estão, naturais. Construções com madeira, montadas no local, adaptadas ao relevo, às existências, como que planando. Os materiais serão a madeira, muita madeira, algum vidro permitindo que o interior se prolongue para o exterior e que este seja parte integrante dos interiores, também conforto e privacidade. Nas coberturas folha de cobre, garantindo estanquecidade e sobretudo uma coloração que devagar, com o tempo, se aproximará das cores existentes naturais. Outro material fundamental são os verdes existentes, a manter, todos.
A ideia já lá está. É ideia simples mas não será por isso que não é ideia nem boa. O local é únicoe único se deverá manter.Aideiapretende-seúnica,para olocal, aquele. A ideia está no local, só falta vê-la. É necessário vontade. É necessário focalizá-la para a montar, nas nossas cabeças, criá-la nas nossas vontades. De ideia passará a realidade, pelo projecto. Um hotel diferente no Cabedelo. Parece que já lá está. Sempre esteve, só não houve ainda oportunidade.